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Domingo, 07 de Outubro, 2012

 

Verões e Serões (de Natal) da minha infância

 

 O quadro apresenta-se digno das pinceladas de mestres como Renoir ou Monet:

Em grande plano duas vertentes montanhosas em que o verde das árvores se sobrepõe ao verde dos campos, dos prados frondosos limitados por árvores de fruto, ciprestes, salgueiros ou ulmeiros. Da casa de meus avôs duas janelas ficavam estrategicamente frontais para a barragem que se via bem no centro do quadro inspirador mas ao mesmo tempo as janelas ficavam sobranceiras ao casario que era avistado lá em baixo na aldeia bem como uma outra “aldeiazinha” (onde descansam os mortos) esta caiada de branco e que ficava numa pequena colina acima do rio, local onde sei ter os meus entes mais queridos que já tomaram A VIAGEM. Os avós e padrinhos, tios e primos, sei sempre onde os encontrar para trocar dois dedos de conversa. Se olhássemos um pouco mais para cima, em direcção aos céus e quase tocando-lhes podíamos avistar o resto da idílica paisagem carregada de verde fresco: O Monte da Abadia de Bouro ou o Monte de Santa Isabel, um dos locais mais belos e aprazíveis das redondezas ou lá mais abaixo, quase no fundo deste quadro naturalista as Serras da Cabreira e do Gerês, descendo em direcção às pontes de rio caldo. Dali, qual miradouro natural avista-se a perder no horizonte uma paisagem única em que o ar fresco e saudável nos trás à lembrança outros ares (da cidade) e então agradecemos por aquela oportunidade de ouro que muitos gostariam certamente de experimentar. Para alimentar o espírito de sublime beleza e aromas que dançam nos ares e inebriam-nos de prazer.

Quase a cortar o horizonte, lá ao fundo do quadro, a majestosa serra geresiana impõe beleza e cores mágicas para terminar em grande com pinceladas de cores quentes.

  Este conjunto de cores, os aromas, o céu, a água ou as montanhas, fazem-me recordar as viagens ao monte em busca de mato, entretanto roçado, ou de lenha para nos aquecer nos longos dias e noites invernais transportados em carros puxados a juntas de vacas e cujos eixos “choravam” sobre as grandes pedras da calçada daqueles tempos.

Costumava segredar que apenas quem nascera saloio (e não era no aspecto pejorativo da palavra) era quem conhecia verdadeiramente os aromas e estados do campo, é que sabia verdadeiramente o valor da convivência com a natureza e o valor que se devia dar por isso.

  O final do ano, esse surgia, mais uma vez repentinamente, como acontece todos os anos. Prenúncio de que corríamos céleres na celebração de cada Natal de cada Páscoa que as férias chegam depressa em cada Verão das nossas vidas. Até parece que os dias de hoje são mais pequenos do que os de ontem. A vida afinal acontece tão depressa que urge celebrar cada ocasião como se fosse a última.


 Na minha infância Dezembro era o mês mágico. Da magia vinda dos presépios que criávamos com todo o cuidado com as figuras bíblicas colocadas estrategicamente sobre o musgo que era colhido nos montes e do pinheirinho que assinalava a luz do nascimento e que emprestava á casa um aroma a pinho que ficaria para sempre na minha memória.


 O Dezembro era a minha libertação. Sonhava o ano inteiro com o dia em que ia ao monte que ficava logo ali bem pertinho de casa de meus avós e de lá trazia a magia carregada ao colo. Eram outros os tempos.

 Tempos que passavam devagar para que nos deliciássemos de cada momento porque seriam únicos e porque afinal eram tempos de infância. Um tempo tão pequeno quanto nós.
  Certamente, por isso mesmo, o que mais saudades trazem nesta época de final de ano. Depois seria tempo de crescer e de deixar as magias para trás.

 Hoje tudo é diferente.

 Desapareceram as pessoas que mais amamos por que envelheceram e pereceram, as mesmas que nos sorriam a cada chegada do mês de Dezembro, para passar o Natal e Fim de Ano. Ou no calor de um Verão para passarmos mais tempo entre um mundo á parte, diferente daquele a que estava habituado durante o resto do ano. A cidade era antítese do campo, mais acentuado naqueles tempos.

Pais, Avós, tios, primos pessoas que nos ajudaram a construir esses sonhos e que recordamos com saudade a cada ano que passa esperavam ansiosos por cada regresso. Agradeço ter meus pais e por me ajudarem a lembrar alguns cantinhos esquecidos dessa meninice feita com musgo e pinheiros, com rabanadas e aletria ou com banhos e corridas por entre os milheirais. Com foguetes feitos de canas de milho ou ainda daquela lareira que estava sempre acesa para nos aquecer depois de uma jornada ao frio cortante dos montes que ficavam nas faldas do Gerês.

Hoje, á falta deles, imagino-os connosco, sentados á mesma mesa, com as conversas do costume, os sorrisos e as anedotas a que se seguiam grandes gargalhadas; a lareira sempre acesa que nos aquecia das temperaturas baixas que se faziam sentir lá fora e emprestavam á casa um ar de aconchego que junto com os aromas dos doces e das faúlhas do majestoso pinheiro, completavam o quadro de uma família feliz.

Sinto-os em espírito porque acredito que eles estão entre nós, nos guiam, ajudam e protegem qual anjo da guarda e porque sim, sim, acredito que um dia, mais tarde, voltarei a estar com todos eles e havemos de voltar a sorrir, abraçar e falar de tudo que foi e que desta vez, voltará a ser, que havemos de ter novamente aqueles Natais da minha infância e então tudo terá valido a pena.

Ter passado por dificuldades na vida para aprendermos a nos levantar, ajudar o próximo, amar quem nos ama e como Ele oferecer a outra face para vivermos em paz. Ou então ter vivido momentos de pura satisfação, de puro prazer e amor para sermos lembrados, um dia mais tarde. Que não agora. Agora urge viver.

Para o Bem e para o Mal decerto que vou recebê-los com aquele beijo costumeiro que acontecia em cada regresso àquela casa, dos tempos em que nos conhecemos nesta vida.

Sinto-os em espírito e assim, cada Natal apesar da ausência de todos eles, dos que já partiram, torna-se especial e menos pesaroso por causa dessas ausências, por nos lembrar com saudade a sua presença e agir como se estivessem perto de mim em pessoa.

 Aí, volto a sentir o calor do seu afecto e amor, do tamanho da sua alma e do sorriso de suas faces, as vozes e olhares, aquele caleidoscópio de cores e aromas que invadiam a típica casa aldeã com o granito a impor a sua presença, em que o verde das árvores sobrepunha-se ao verde dos relvados circundantes ou as cores amarelo e vermelho das folhas caducas das videiras, das macieiras e pereiras ou das ameixeiras e castanheiros cujo fruto era por mim venerado com um ritual próprio que ia da apanha até ao assar das castanhas entre as brasas da fogueira, completavam um quadro impressionista e digno apenas dum verdadeiro artista.

 Sinto-os vivos dentro de mim. Mas mesmo assim queria voltar a ser aquela criança que fui, nem que fosse por um Natal.

 Apesar de tudo ser diferente, hoje escrevo com alegria porque afinal sempre posso sonhar que dali o mundo até parecia um lugar feliz onde era bom viver.

Por vezes dou comigo a pensar que aquele sorriso franco e aberto ficou lá atrás num tempo situado algures entre o Gerês e aquela casa de granito com belas árvores de fruto e roseiras bravas. No tempo da criancice e das brincadeiras aqui narradas; mas nessa altura era um sorriso que não cabia no mundo e que tinha a duração de cada dia, vinte e quatro horas!

Mas também é bom saber que brevemente, porque esta vida são – mesmo! – Dois dias e como dizia o cantor: um deles é para acordar… voltaremos todos ao tempo que deixará de ser saudade e que ficou lá atrás.

Nessa altura tudo terá valido a pena. Todos os natais da minha (nossa) vida devem ser vividos com o espírito de… “Natal Esperança”!

Com alegria por ainda termos connosco alguém que nos ama e se nos faltar esse Amor sempre teremos a memória e a certeza de que um dia voltaremos a nos encontrar por aí…

Carlos Alberto Rodrigues

 

 

 

publicado por carlitos às 22:15

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