Alberto João Jardim volta a ganhar eleições na Madeira (actual.)
Líder madeirense teve este domingo o pior resultado de sempre do PSD na região, mas os 48,5% obtidos dão direito a mais de metade dos assentos parlamentares.
Lisboa - Alberto João Jardim voltou a ganhar as eleições para o governo da Região Autónoma da Madeira, com o Partido Social Democrata (PSD) a alcançar 48,5% de votação este domingo, que lhe darão direito a 25 dos 47 assentos do parlamento regional, ou seja, mais uma maioria absoluta.
Apesar da vitória, este foi o pior resultado do PSD na Madeira, abaixo dos 53,7% de votação que o partido de Alberto João Jardim tinha tido em 2004. Um recuo que acontece num momento em que têm sido apontadas críticas ao governo regional pela dívida pública acumulada na Madeira.
Após terem sido conhecidos os resultados, Alberto João Jardim assegurou que irá governar sem cedências. Mas entre os vencedores ficaram também os democratas-cristãos do CDS, que passam de dois para nove deputados, tornando-se, com 17,6% dos votos, a segunda força política da região.
O CDS bateu o Partido Socialista (PS), segunda maior força política a nível nacional, que na Madeira teve uma votação de 11,5%, com direito a seis deputados (menos um que em 2007).
Entretanto, o delegado da Comissão Nacional de Eleições na Madeira, Paulo Barreto, que este domingo recebeu cerca de três dezenas de queixas relacionadas com as eleições regionais madeirenses, anunciou que irá renunciar ao seu cargo, por ser "importante dar lugar a outro com ideias novas".
Já o secretário-geral do PS, António José Seguro, reagindo às eleições regionais deste domingo, afirmou que os socialistas madeirenses obtiveram um resultado "bastante negativo" e defendeu que o PS/Madeira deverá entrar "num novo ciclo".
Análise/Eleições na Madeira: Resultados confirmam influência de Jardim e política regional muito "pessoalizada"
Os resultados das eleições na Madeira demonstram o poder da influência de Alberto João Jardim e da sua máquina partidária na região, onde a política é muito "pessoalizada" e tem uma dimensão de "caciquismo" importante, consideram politólogos ouvidos pela Lusa.
Para António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, a nível local, as legislativas regionais de domingo, que deram mais uma maioria absoluta ao PSD, mas com o pior resultado de sempre, não revelaram nenhuma grande novidade em relação ao poder e à influência de Jardim e da máquina partidária do PSD-M.
"Apesar de tudo, esta crise [financeira nacional e da dívida da Madeira] teve um impacto menor nas atitudes eleitorais do que se percebia", disse à Lusa.
E mesmo que agora Jardim "sofra alguma contestação interna", no fundamental “não foi abalada a estruturação de relações entre Alberto João Jardim e a estrutura de interesses local, que depende aliás dele".
Para o politólogo, e ainda no nível da política local madeirense, "menos marcada por uma clivagem esquerda/direita", dada "a estratégia populista" de Jardim, o facto mais significativo destes resultados é que "a eventual alternativa está a surgir à direita".
Quanto ao fenómeno dos pequenos partidos, que conseguiram todos eleger deputados, Costa Pinto explica-o por serem "muito pessoalizados", ou seja, "a figura é mais importante do que o partido". Em muitos casos são, aliás, "dissidências que vão utilizando um ou outro nome de partido", referiu.
Uma tradição, aliás, na Madeira, “iniciada muito cedo pelo próprio Alberto João Jardim", acrescentou.
Para o investigador, "não há nenhuma diferença no fundamental entre este tipo de campanhas eleitorais na Madeira e noutros subsistemas de democracias, como algumas áreas do Brasil, onde o clientelismo, o personalismo, os modelos de mobilização para o voto não coincidem com o estereótipo da qualidade da democracia".
Já na dimensão nacional, Costa Pinto considera que estas eleições têm duas novidades. Em primeiro lugar, "para a opinião pública nacional a Madeira deixou de ser um estilo, o estilo de Alberto João Jardim", para "ser um problema que todos terão de pagar".
Por outro lado, acrescentou, "esta vitória de Alberto João Jardim coloca a Madeira em melhores condições negociais", ou seja, "muito embora a conjuntura difícil, não está eliminada nem posta de parte a margem de manobra" do presidente do Governo Regional da Madeira.
Também para Adelino Maltez estas eleições foram a "consagração do populismo", considerando que a Madeira, “ao contrário dos Açores, baixou para um nível quase autárquico de gestão": "Houve aqui uma diminuição de nível, uma região autónoma não é apenas um quadro puramente autárquico marcado pelo caciquismo, clientelismo, populismo, clericalismo, pelo intervencionismo do aparelho administrativo em termos de emprego".
Para este professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), a única "alteração substancial" está nas consequências destas eleições e no novo ciclo que agora começa, tanto para a Madeira como para o resto do país: "Andamos todos troikados e a Madeira também vai ser troikada", afirma, referindo que existe agora um "novo fiscalizador externo" e Alberto João Jardim já não poderá "ocultar" dívida. in "lusa".